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MAMOPLASTIA HÍBRIDA: COMBINAÇÃO DE IMPLANTES MAMÁRIOS COM ENXERTO DE GORDURA AUTÓLOGA

Dr. Edgar Alberto Lopez Campos
Cirurgião Plástico
CRM: 124090 – RQE: 45068

São Paulo, 16 de Novembro de 2022



RESUMO- A mamoplastia híbrida é uma técnica que combina próteses mamárias com enxertia de gordura, resultamdo em contornos harmoniosos das mamas que tendem a oferecer maior satisfação e durabilidade às pacientes. O presente artigo ressalta a importância de empregar as técnicas de forma adequada, assegurando que o resultado atenda às expectativas em termos de volume, forma e naturalidade. Destaca-se também a relevância do acompanhamento clínico contínuo e da utilização da ressonância magnética como ferramenta eficaz para identificar precocemente complicações. Por fim, enfatizam-se os principais desafios enfrentados pelos profissionais, como a imprevisibilidade na retenção de gordura, as variações morfológicas decorrentes da reabsorção de tecido adiposo e os potenciais efeitos adversos inerentes ao procedimento.
PALAVRAS-CHAVE: Mamoplastia híbrida. Lipoenxertia. Tecido adiposo.
ABSTRACT- Hybrid mammoplasty is a technique that combines breast implants with fat grafting, resulting in harmonious breast contours that tend to offer greater patient satisfaction and long-lasting results. This article emphasizes the importance of employing these techniques appropriately, ensuring that the result meets expectations in terms of volume, shape, and naturalness. It also highlights the importance of continuous clinical monitoring and the use of magnetic resonance imaging as an effective tool for early detection of complications. Finally, the main challenges faced by professionals are highlighted, such as the unpredictability of fat retention, morphological variations resulting from adipose tissue reabsorption, and the potential adverse effects inherent to the procedure.
KEYWORDS: Hybrid mammoplasty. Fat grafting. Adipose tissue.
1 INTRODUÇÃO
Corrêa (2025, p. 2) destaca que “os implantes mamários evoluíram ao longo do tempo para melhorar sua segurança e os resultados estéticos”. A mamoplastia híbrida é um procedimento cirúrgico que combina técnicas da mamoplastia de aumento ou a mastopexia com a lipoenxertia. Essa abordagem associa o uso de próteses mamárias à gordura retirada de áreas indesejadas do corpo da própria paciente, proporcionando resultados mais naturais e duradouros.
Em síntese, os implantes mamários são próteses de silicone ou outro material colocadas para dar volume e forma. Dessa maneira, esse procedimento cirúrgico é utilizado para aumentar ou modelar os seios. “A cirurgia plástica, tanto estética quanto reparadora, tem como objetivo corrigir ou melhorar disfunções ou imperfeições corporais originadas de deformidades congênitas, traumáticas ou fisiológicas, visando a melhoria da saúde e da qualidade de vida” (BATISTA, et al., 2025, p. 2).
Com base nos avanços que proporcionam inovações nos procedimentos, o profissional deve se atentar aos protocolos corretos para promover maior segurança.
Esta pesquisa tem como objetivo apresentar as técnicas, limitações e perspectivas da mamoplastia híbrida, ressaltando a relevância da cirurgia plástica.
2 TÉCNICA CIRÚRGICA DA MAMOPLASTIA HÍBRIDA
“A história do aumento mamário remonta a 1895, quando foi realizado o primeiro procedimento deste tipo, documentado pelo cirurgião alemão Vincenz Czerny” (CORRÊA, 2025, p. 2). Desde então, diversas técnicas têm sido desenvolvidas com o objetivo de reduzir complicações e assegurar resultados mais estáveis e com maior durabilidade.
“O termo autólogo significa que o doador é o receptor, ou seja, não é necessário usar o termo ser homólogo, uma vez que este conceitua ser o receptor e doador da mesma espécie” (OLIVEIRA, 2015, p. 21). Essa distinção é crucial para minimizar os riscos de rejeição, reduzindo a possibilidade de transmissão de doenças.
Santo et al. (2021, p. 369) destacam que “o estudo constante de diferentes táticas e abordagens na mamoplastia tem sua importância com a relação entre a prática clínica embasada na literatura, principalmente com artigos que abordem a
medicina baseada em evidências ou revisões sistemáticas”. A mamoplastia híbrida corresponde a uma alternativa que alia a segurança e previsibilidade dos implantes mamários. Além de proporcionar maior volume dos seios, esse procedimento visa corrigir a flacidez, promovendo um contorno harmonioso.
Na cirurgia plástica (CP), os procedimentos visam melhorar a forma, a aparência, a função e a reabilitação, respeitando a autonomia do paciente, bem como aspectos subjetivos, psicológicos, tais como autoestima, autopercepção, autodeterminação, ainda relacionados a realidade, o ambiente social e a qualidade de vida. (BATISTA, et al., 2025, p. 4).
“Transferir a gordura de uma área onde ela está presente em excesso, como o abdômen ou as coxas, até o peito, a fim de melhorar a forma e o volume da mama, não é uma ideia nova” (OLIVEIRA e SANTOS, 2019, p. 95). Augustini e Calaes (2021, p. 28) destacam que “a lipoenxertia é uma grande aliada nesses casos, sendo uma opção autóloga e segura para aumento de volume e melhoria do contorno mamário, além de seus efeitos regenerativos locais”.
Os transplantes autólogos ocorrem quando o tecido enxertado provém do próprio receptor, tais como pele, cartilagem, osso, gordura e, neste estudo especificamente, do tecido mamário. Um dos principais problemas do transplante está na possibilidade de rejeição do órgão ou tecido por parte do receptor, o que, evidentemente, não irá ocorrer no caso dos autoenxertos devido ao reconhecimento do tecido como sendo próprio. (OLIVEIRA, 2015, p.23).
A lipoenxertia mostra-se eficaz em garantir naturalidade estética, além da previsibilidade volumétrica. “Enxertos de gordura autólogos têm ganhado atenção crescente e ampla aceitação por melhorar os resultados em reconstrução mamária. Têm limitação natural para uso isoladamente, por sua natureza mole” (GOMES et al., 2019, p. 125).
Segundo Oliveira e Santos (2019, p. 95), “o uso da lipoenxertia autóloga para a correção de defeitos volumosos foi inicialmente descrita há mais de 100 anos para correção de defeitos faciais”. Enxerto de gordura autóloga consiste na retirada de tecido adiposo do próprio corpo do paciente, seguido de sua injeção nas mamas, com o propósito de aprimorar o contorno, corrigir irregularidades e conferir um aspecto mais natural ao resultado estético.
A lipoenxertia associada aos expansores e próteses mamárias, realizada nos casos relatados, obtiveram resultados satisfatórios do ponto de vista do paciente e da equipe cirúrgica, sendo utilizados com a finalidade de aumento do volume mamário, melhora da pele e da estrutura de suporte dos tecidos, além de proporcionar refinamento e correções de pequenas imperfeições após procedimento cirúrgico. (OLIVEIRA e SANTOS, 2019, p. 100).
A mamoplastia híbrida pode ser realizada sob anestesia peridural associada à sedação ou sob anestesia geral. Inicialmente, o tecido adiposo é extraído de áreas doadoras previamente selecionadas do corpo da paciente, como abdômen, face interna das coxas ou glúteos. Em seguida, a gordura coletada passa por processo de purificação e, posteriormente, é enxertada com o auxílio de microcânulas nas regiões demarcadas da mama, visando maior refinamento estético e integração tecidual. Santo et al. (2021, p. 371) explica que “a injeção de gordura quando realizada nas mamas deve ser parcimoniosa”.
A gordura aspirada passa por um processo de limpeza para ser reinjetada. Oliveira e Santos (2019, p. 95) destacam que “o tecido adiposo é infiltrado com uma solução tumescente (por exemplo, solução de Klein) e, em seguida, manualmente colhida através de incisões na pele, introdução de cânula de 3mm com dois furos, de bordas rombas, conectadas a uma seringa de 10ml”. Augustini e Calaes (2021, p. 29) descrevem que “após o fechamento da incisão, é realizada a lipoaspiração com técnica convencional em aparelho a vácuo, evitando cânulas muito calibrosas ou muito finas – usamos de 3 mm”.
“Quanto à estratégia cirúrgica, é importante sempre alinhar durante o pré-operatório a expectativa da paciente em relação a cicatrizes, volume, formato, flacidez e projeção das mamas – com a possibilidade técnica real e efetiva” (AUGUSTINI e CALAES, 2021, p. 34). A comunicação é um aspecto crucial para estabelecer mais segurança, além de informar os riscos inerentes e limitações anatômicas.
3 VARIAÇÕES NO RESULTADO DO ENXERTO DE GORDURA
O aumento mamário com enxerto de gordura confere o contorno e naturalidade às mamas, promovendo resultado mais suave. No entanto, é importante compreender que o enxerto adiposo não é totalmente absorvido, tampouco permanece em sua totalidade. Nesse procedimento, o cirurgião deve discutir com o paciente o volume mamário desejado. “É bastante discutido qual o volume limite, ou ideal, de enxerto
para se atingir um resultado efetivo e seguro, uma vez que volumes excessivos numa mesma cirurgia estarão mais sujeitos a necrose e complicações” (AUGUSTINI e CALAES, 2021, p. 28).
“O maior desafio desse procedimento hoje é o grau de imprevisibilidade de retenção de volume dos enxertos de gordura após o transplante, e muito esforço é feito na tentativa de encontrar técnicas que obtenham a maior taxa de integração possível’ (AUGUSTINI e CALAES, 2021, p. 34). Trata-se de uma transferência de células vivas de um local do corpo para outro. Após o enxerto, uma parte dessas células sobrevive, integra-se ao novo leito receptor e passa a receber irrigação sanguínea. Outra parte é reabsorvida naturalmente pelo organismo.
Embora seja considerado um procedimento seguro, alguns pacientes podem apresentar efeitos colaterais. Augustini e Calaes (2021, p. 33) listaram alguns sintomas que podem surgir após o procedimento, como o “ressecamento de boca e olhos, formigamento em membros, dificuldade para respirar, intolerância alimentar adquirida, dor nas mamas, queda de cabelo, alterações na pele, palpitações, sudorese excessiva e ansiedade”.
O profissional deve realizar o acompanhamento contínuo, avaliando cuidadosamente os sintomas, a fim de assegurar uma recuperação adequada ao paciente. Portanto, Augustini e Calaes (2021, p. 33) explicam que “é fundamental que o médico especialista valide tais queixas e encaminhe, se necessário, para seguimento na especialidade responsável – a reumatologia”.
“O enxerto de gordura em mamas tem ampla utilização, porém alguns cuidados relacionados às imagens resultantes desse procedimento à mamografia não podem ser ignorados” (SANTO et al., 2021, p. 370). A presença de necrose gordurosa e cistos oleosos podem dificultar a interpretação, mascarando alterações malignas. De acordo com Corrêa (2025, p. 4) “a mamografia, a ultrassonografia e a RM são os exames de imagem mais frequentemente usados para avaliar a integridade dos implantes mamários, geralmente em pacientes sintomáticas de ruptura”.
De acordo com Oliveira e Santos (2019, p. 99), “com base na sua excelente sensibilidade na detecção de complicações do transplante autólogo de gordura, como cistos de óleo, calcificações ou necrose, a ressonância magnética é de grande interesse após o transplante de gordura autóloga para a mama”. A RM apresenta maior precisão na distinção entre alterações benignas e suspeitas, contribuindo para um acompanhamento clínico mais seguro e eficaz das pacientes.
“O sucesso do enxerto seria dependente do número de adipócitos viáveis” (OLIVEIRA, 2015, p.24). As células vivas transplantadas precisam se adaptar ao novo local onde foram enxertadas, e seu volume pode variar de acordo com oscilações de peso corporal. No entanto, nem todas as células sobrevivem ao processo, o que resulta em uma pequena porcentagem de perda devido à reabsorção natural.
As células aumentam de tamanho com o ganho de peso e reduzem com a perda. Por isso, o resultado pode sofrer pequenas alterações ao longo do tempo, de acordo com o metabolismo e o estilo de vida do paciente. “O enxerto de gordura é um procedimento pouco invasivo, seguro, simples e efetivo” (OLIVEIRA e SANTOS, 2019, p. 99). A técnica de injeção tem papel fundamental na taxa de integração dos enxertos. Quando realizada de forma precisa, em pequenos volumes, favorece a sobrevivência celular e minimiza a taxa de reabsorção. Assim, a escolha de uma técnica cirúrgica adequada, aliada à experiência profissional, é essencial para resultados mais previsíveis e duradouros.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mamoplastia híbrida é uma técnica que tem se destacado como uma opção promissora e cada vez mais procurada pelas pacientes por proporcionar resultados com maior naturalidade, especialmente por combinar a lipoenxertia com uso de implantes. Entretanto, esse procedimento ainda apresenta limitações, quanto à imprevisibilidade na retenção de gordura e à variabilidade do volume ao longo do tempo após a reabsorção do tecido adiposo.
Diante desses desafios, é importante promover estudos prospectivos para contribuir na avaliação de eficácia, com imagem volumétrica e análise rigorosa, com o propósito de identificar os fatores que modulem positivamente a retenção e os resultados.

São Paulo, 16 de Novembro de 2022


REFERÊNCIAS

AUGUSTINI, B. B, CALAES, I. L. D. A crescente demanda pelo explante de silicone mamário: um novo cenário para cirurgia de mamas. Rev Bras Cir Plást [Internet]. 2022jan;37(1):27–35. Disponível em: https://doi.org/10.5935/2177-1235.2022RBCP0006.
BATISTA, K. T et al. Desafios éticos em Cirurgia Plástica na era da Inteligência artificial. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica (RBCP) – Revista Brasileira de Cirurgia Plástica 2021; 40: s00451809436. DOI: 10.1055/s-0045-1809436.
CORRÊA, W. E. M. Avaliação da ruptura assintomática de implantes mamários preenchidos com gel de silicone Silimed. Rev Bras Cir Plást 2025;40:s00451809393.
GOMES, R. S., GARCIA, E. B., GOMES, H. F. C., & FERREIRA, L. M.. (2019). Novas tecnologias e inovações em cirurgia mamária. Revista Brasileira De Cirurgia Plástica, 34(1), 120–126. https://doi.org/10.5935/2177-1235.2019RBCP0018.
OLIVEIRA, L. D’A. Uso de enxerto autólogo de tecido mamário de mama contralateral em reconstrução de mama: uma nova abordagem. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Medicina, Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas, Porto Alegre, BR-RS, 2015.
OLIVEIRA, C. C; SANTOS, C. C. D. Lipoenxertia em reconstruções mamárias com expansor e implantes. Rev Bras Cir Plást [Internet]. 2020Jan;35(1):94–100. Available from: https://doi.org/10.5935/2177-1235.2020RBCP0015.
SANTO, P. R. Q. D. E., VEIGA, D. F., BOGGIO, R. F., COUTINHO, F. L., GROTH, A., BRASOLIN, A. G., & FERREIRA, L. M.. (2021). Mamoplastia: passos para uma cirurgia segura. Evidências da literatura. Revista Brasileira De Cirurgia Plástica, 36(3), 366–372. https://doi.org/10.5935/2177-1235.2021RBCP0103.

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